Finais narrativos, recomeços jogáveis
Eu gosto muito de navinhas e carrinhos (em contextos diferentes).
Essa newsletter nasceu da minha vontade de compartilhar umas opiniões e análises curtinhas por aí. Nada mais justo que ela começar com o primeiro textinho desse tipo que escrevi esse ano, ainda sem pensar em mandar pra ninguém.
Breve ensaio sobre finais
Spoilers: Steven Universo, Game of Thrones, The Expanse
Finalmente terminei The Expanse e estaria mentindo se dissesse que achei a última temporada realmente boa. Achei que a temporada foi toda apressada, não deu espaço nenhum pra gente viver e sentir momentos importantes e tomou diversos atalhos que, pra mim, diminuíram o impacto emocional dos acontecimentos grandiosos que compõe o arco final da história. Mas numa busca rapidíssima revelou que a desconfiança de que a série havia sido prejudicada por questões orçamentárias estava correta e, então, tudo fez sentido. Não me importei mais tanto assim com não ter tido mais momentos com a Drummer sendo incrível, ou com a falta que senti de um desenvolvimento ainda maior pra queda do Marco Inaros. Não foi incompetência ou ideias tortas que prejudicaram a série; muito pelo contrário, competência teve de sobra nas atuações e nos roteiros, que tiveram tão pouco tempo pra nos mostrar o fim de uma saga tão complexa.
E, quando uma série acaba tão bem apesar dos pesares, é difícil não lembrar dos finais recentes que não alcançaram as expectativas. Pra mim, duas séries são a epítome disso: Steven Universe e Game of Thrones. Sendo muito honesta, sinto que tive muito mais apego a personagens dessas duas séries do que tive com os de The Expanse. Amo a Avasarala, a Drummer e a Bobbie, mas tem muitos personagens que eu só “gosto” – eu poderia ter incluído Amos e Naomi nessa lista, mas eles foram perdendo o charme no decorrer da série, e eu nunca fui fã do Holden, apesar de achar um ótimo personagem. Agora, o tanto que Daenerys, Tyrion, Jon Snow, Margeary, Cersei, Brienne, Catelin e cia. Mexiam comigo... ai. Que dor. Que dor, que dor, que dor aquele finalzinho. Doeu tanto que escrevi fanfic, uma bem curtinha só pra recontar o fim da série, na época. E minhas chuchuzinhas Garnet, Ametista e Pérola? Meu ship perfeito Steven e Connie, minha esquisitona favorita Peridot, e os habitantes humanos de Beach City? Steven Universe é lindo demais e, como obra que nitidamente tem mensagens a passar, é tão, mas tão bom... até o fim. Ai. Mais dor. Muita dor.
Os finais de Game of Thrones e Steven Universe me decepcionaram por motivos muito diferentes. GoT já tinha me decepcionado com o fim da quinta temporada, e cheguei a passar um bom tempo sem assistir. Voltei quando a sétima estava passando e, assim, não exatamente me arrependo, mas também não não-me-arrependo, sabe? Enfim, não vou me demorar aqui, já que gente que manja muito mais que eu já falou bastante sobre isso, mas tivemos finais medíocres pra muitos personagens e uma sensação de insatisfação generalizada.
Já com Steven Universe problema foi mais pessoal: eu não consigo aceitar que uma série tão interessada em questões sociais transforme tão tranquilamente personagens genocidas em “ex-malvadas engraçadinhas” em nome da ideia de perdão. Talvez a intolerante seja eu, mas é difícil passar por cima disso acreditando, como acredito, que todos devem se responsabilizar pelos seus erros.
Acho curioso que, pra mim, o grande rei dos finais meia-boca era Neil Gaiman. Quase todos os romances dele têm esse gostinho de “o romance são os personagens e acontecimentos que gostamos pelo caminho”. Eu até escrevi meu TCC, lá em 2014, falando de construção narratológica e horizonte de expectativas em O oceano no fim do caminho, livro que acho lindo de cabo a rabo. A jovem Kali que se propôs a ler uma quantidade absurda de Gaiman pra escrever esse trabalho achou bem fácil falar que, infelizmente, o Tio Gaiman era muito melhor de construção do que de amarração. Hoje, apesar de ainda acreditar que o melhor Gaiman é o dos contos e quadrinhos, não vejo mais tanto problema com os finais menos empolgantes que ele escreve nos romances. Nunca saí de um romance dele com o mesmo amargor que saí de GoT ou SU.
Talvez seja por isso que meu problema inicial com a temporada derradeira de The Expanse tenha se esvaído tão rápido. Não vai ter fanfic de The Expanse, porque não precisa ter. Se sinto saudades das personagens ali, são saudades tranquilas, saudades que sabem que posso reassistir a sério desde o episódio 1 da primeira temporada sem medo de, sei lá, o Holden esfaquear a Naomi ou o Marco Inaros entrar em águas termais com a tripulação da Rocinante e geral fingir que tá tudo bem, ele se arrependeu, ele era malvado, mas é bonzinho agora.
No fim, talvez The Expanse seja as navinhas que cruzaram os céus pelo caminho. Eram boas navinhas.
Um joguinho para passar nervoso bom
Pra quem está se perguntando onde entra o pedaço automobilístico mencionado no subtítulo, deixo a minha recomendação de um joguinho que me ajudou a passar por esse ano com a sanidade um pouquinho menos demolida: Mini Motorways.
O Mini Motorways é um jogo minimalista com partidas rápidas que giram em torno de ligar casinhas e… quadrados? Círculos? Ah, destinos parece uma palavra melhor. Pra fazer essas conexões, a gente usa bloquinhos de ruas, pontes, túneis e algumas rodovias especiais, que logo ficam povoadas por carrinhos coloridos indo até destinos de suas respectivas cores. Conforme o tempo passa, a quantidade de carrinhos necessária para satisfazer as demandas de cada destino aumenta e a natureza aleatória do spawn das casinhas torna as conexões mais difíceis.
É um joguinho de passar nervoso, mas nervoso bom: ficar com a cara colada na tela pensando apenas em soluções pro emaranhado de estradas, podendo esquecer do Brasil, de Porto Alegre, de tudo que me dá nervoso ruim (e como teve nervoso ruim em 2022) foi uma dádiva que nem todo jogo me concedeu esse ano. Então fica aqui a recomendação: você pode pegar Mini Motorways (e seu irmão que me prendeu menos, Mini Metro) na Steam.
Por hoje é isso.
Espero que tenha sido gostosinho ler a news! Inclusive, sinta-se convidade a começar uma conversa por conta dela. Deixo aqui um abraço forte e feliz com a vitória do último fim-de-semana. Até!
Vou (novamente) dizer com toda a minha força: leia The Expanse. Vale muito a pena. O início é idêntico à série, mas as coisas vão acontecendo e ele vai se afastando lentamente. São só uns 9 livros, ao todo 5.062 páginas, coisa pouca, rapidinho vc mata. Em tempo: que morte horrível meu stevenzinho né :(
Esse ano foi um ruim atrás do outro né? E sobre Got - tamo junto demais na decepção generalizada.
E tenho a impressão que a gente se acostumou tanto com isso de uma forma ruim (aka eu fui jogar dark souls pq minha vida precisava de mais rage flavours? Talvez hahaha)
Mas tem pontos bons também. Alguns poucos, incríveis. Alguns recentes; outros de meses. De alguma forma, a gente sempre segue.
Te sigo por aqui tb. Boa sorte nesse projeto. 😉